Muito mais do que pães e bolos

Muito mais do que pães e bolos

Pandemia intensificou movimento das padarias na busca por ampliar a oferta de itens não panificados

Uma das ações de diversas empresas, seja para sair da crise, seja para aumentar os lucros, tem sido expandir o portfólio de produtos oferecidos, com diferentes opções de determinados itens ou apostando em outros segmentos. Nas padarias, isso não tem sido diferente. Hoje é comum entrar em estabelecimentos do tipo e encontrar não só pães e bolos, mas também produtos chamados “de mercado”, como pó de café, salgadinhos industriais, entre tantos outros.

De acordo com um estudo do Instituto Tecnológico de Panificação e Confeitaria (ITPC), divulgado pela Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria (Abip), no ano de 2020, 38,35% do faturamento das padarias brasileiras, mais de um terço do valor total, vieram de produtos de mercado, como descartáveis, leite em pó, achocolatados, frutas, entre outros. Esse crescimento foi progressivo, passando de 33,61% em 2018, para 36,18% em 2019, até o número registrado no ano passado. Foram 50 empresas pesquisadas em todo país e 88,89% delas obtiveram aumento nesse tipo de item.

Facilidade para os clientes

Segundo o presidente da Abip, Paulo Menegueli, o crescimento de itens de revenda revela uma adaptação do setor diante da crise e das necessidades dos clientes.

“O consumidor está mais exigente e deseja que suas necessidades sejam supridas de forma eficiente e qualificada. Isso significa que durante a compra do pãozinho de qualidade ou do lanche com amigos e familiares na padaria, ele também quer ter a facilidade de ter à mão um item que pode estar faltando para o jantar, ou comprar os descartáveis que vai usar para servir o bolo e os salgados comprados na padaria”, afirma.

Paulo Menegueli também destaca que com a restrição de circulação de pessoas durante a pandemia da Covid-19 esse movimento de ampliação de mix de produtos, para atender a demanda dos clientes, foi potencializado. Ele ainda afirma que essa é uma tendência que continuará em ascensão, mas com ressalvas.

“É uma tendência. Mas destaco que o setor de alimentos é muito amplo, para afirmarmos que esse será um padrão único futuro. Acredito que muitas padarias estão se adaptando ao mercado, agregando um novo mix de produtos às suas prateleiras, e devem influenciar outras a seguir o mesmo caminho. Mas também acredito que em breve padarias no estilo ‘pegou-levou’, com uma cartela de produtos enxuta, também vão ganhar espaço; ou ainda padarias itinerantes, com horários preestabelecidos de fornadas, serão a grande sensação. O que quero dizer é que temos um público muito diverso, e o grande diferencial do setor tem sido sua facilidade de adaptação para atender as diferentes necessidades de seus clientes”, afirma.

Paulo Menegueli acrescenta que “em 2018, os produtos não panificados eram responsáveis por 33,61% do faturamento de uma padaria. Em 2019, essa porcentagem subiu para 36,18%, e em 2020 atingiu 38,35%. Com certeza, ampliar o mix de produtos tem ajudado as padarias na composição do faturamento”, diz.

O presidente da Abip fala dos cuidados necessários ao levar produtos não panificados às prateleiras, afirmando que os itens “de padaria” não podem ser deixados de lado, já que são os carros-chefes desse tipo de estabelecimento.

“O panificador não pode perder sua essência. A padaria é conhecida por apresentar produtos de qualidade. Pães, bolos, tortas, salgados… feitos com insumos controlados, certificados e próprios para cada receita. Os produtos não panificados, apesar de ajudarem a compor o faturamento das padarias, não é o motivo principal pelo qual o cliente procura uma padaria. Manter profissionais capacitados, treinados e a qualidade dos produtos panificados são os principais desafios e, ao mesmo tempo, os propulsores de valorização e ampliação do negócio”, afirma.

Conveniência

Emerson Amaral é diretor da Ideal Consultoria e fala sobre a tendência de as padarias de todo o Brasil adicionarem produtos de revenda em suas prateleiras, explicando que os comerciantes ao fazerem isso oferecem conveniência aos clientes, o que gera fidelidade.

“O que explica esse comportamento é: primeiro vem de uma situação que já existia antes e com a situação da pandemia foi acentuado. Um dos objetivos da padaria é se transformar também em uma loja de conveniência, ou seja, gerar conveniência ao cliente e, consequentemente, aumentar a cesta de compras do cliente e através disso, no intuito de deixar a loja mais conveniente, significa que o cliente possa ir num lugar que ele teoricamente foi para comprar pão e ele possa comprar suas outras necessidades do dia a dia naquele mesmo ponto de venda. Então, essa é a ideia de se buscar a ampliação do mix.

O interessante dessa situação é que quando a loja se torna mais conveniente, o cliente acaba gerando uma preferência de consumo naquele ponto de venda porque ele entende que o seguinte: ‘eu vou lá para comprar o pão que é a necessidade e resolvo a minha vida, eu acabo comprando todas as minhas necessidades’”, diz.

De acordo com Emerson Amaral, esse comportamento veio para ficar, mas não é algo novo, pois apesar de a pandemia da Covid-19 expandir o cenário, ele já era muito forte.

“Isso é uma tendência que veio para ficar, mas eu não diria que é uma tendência só de agora. Isso já era muito forte, já existia essa necessidade, porém, o que eu posso dizer é que com a situação da pandemia, as pessoas circulando menos, ou seja, gerando um número menor de visitações não só nas padarias mas nos outros pontos de venda, fez com que as padarias tivessem a necessidade de uma ampliação ainda maior deste mix para atender a mais necessidades do cliente. Então foi uma coisa que, de alguma forma, realmente foi desenvolvida para gerar maior conveniência para o cliente. Quando eu digo isso é porque existiam lojas que tinham uma menor conveniência e que ampliaram os produtos de revenda para poder exatamente atender a essa necessidade”, afirma.

Emerson Amaral fala ainda que o grande benefício de as padarias adotarem esse sistema é o aumento das vendas e consequentemente, crescimento financeiro, já que o cliente leva mais produtos do que levaria normalmente.

“O cliente não quer ir ao supermercado um número grande de vezes, apesar de ter aumentado as vendas do setor supermercadista. Mas através das padarias, ele acaba se sentindo atraído no sentido de ir lá comprar o pão francês que é algo cotidiano dele. Nós temos uma referência de que o cliente visitava entre 12 e 14 vezes por mês a padaria e hoje esse número está em torno de oito a dez vezes. Houve uma queda, mas consequentemente ele aumentou sua cesta de compras. Eu posso dizer que o benefício é principalmente o aumento do ticket médio, ou seja, o aumento da cesta de compras, consequentemente, aumenta o ticket médio do cliente, que acaba comprando mais coisas dentro do que é oferecido”, ressalta.

Fonte: ABIP / IDEAL Consultoria

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